Wu-Wei e o Moinho D’água

Imagem (象):
Água parada não move moinho.
Mas o rio em fluxo o move sem esforço.
O vazio do moinho o acolhe, o cheio o devolve.
É preciso esperar o que era vazio encher.
E no encher, o movimento.


Julgamento:
O movimento não nasce da estagnação, mas do fluxo. O vazio acolhe e o cheio devolve. Quando o vazio se enche, o movimento se manifesta. Assim, da não-ação vem a ação sem esforço.


Primeira linha (初爻)

Água parada não move moinho.
➡ O início revela o perigo da estagnação: confundir não-ação com inércia. O wu-wei não é ausência, mas abertura para o que ainda não se move.


Segunda linha (二爻)

Mas o rio em fluxo o move sem esforço.
➡ O Dao é como o rio: o que se mantém em fluxo dá vida a tudo sem intenção. Aqui se mostra a eficácia do agir em ressonância com o processo, e não contra ele.


Terceira linha (三爻)

O vazio do moinho o acolhe.
➡ O yin se manifesta: aquilo que é vazio pode receber. O que parece fraqueza é, na verdade, condição de potência.


Quarta linha (四爻)

O cheio o devolve.
➡ O yang se manifesta: o que foi recebido se transforma em ação eficaz. Plenitude que devolve ao mundo o que acolheu no vazio.


Quinta linha (五爻)

É preciso esperar o que era vazio encher.
➡ Entre yin e yang há tempo e sucessão. O vazio não se converte em ação de imediato. A eficácia depende da espera do ciclo: é o momento da preparação silenciosa.


Sexta linha (上爻)

E no encher, o movimento.
➡ O ciclo se completa. O movimento é renovado porque o vazio se tornou cheio e volta a esvaziar-se. Aqui se revela a dinâmica do wu-wei: alternância contínua, não paradoxo.


Síntese (Da não-ação vem a ação sem esforço):
Assim como no hexagrama, o moinho ensina que o vazio não é fim em si, mas condição do pleno. No ciclo yin–yang, a não-ação prepara o agir, e o agir retorna ao não-agir. Essa alternância dissolve o paradoxo e mostra o wu-wei como processo cósmico de complementariedade.

 

Be the first to comment on "Wu-Wei e o Moinho D’água"

Leave a comment