🎭 “Sobre o que é Arte” — Um Diálogo Dramático(*)
*Diálogo original criado com a utilização de recursos de IA
Personagens:
- SÓCRATES, filósofo que interroga com rigor, sempre em busca da essência.
- UBÍRACLES, pensador contemporâneo, defensor de uma concepção radicalmente subjetiva da arte.
Cenário: Uma galeria vazia, exceto por uma cadeira quebrada sob um holofote. Ao lado, um cartaz escrito: “Arte ou Entulho?”
SÓCRATES: (aproxima-se lentamente da cadeira)
Dize-me, amigo: isso que está diante de nós — seria arte ou apenas um móvel deteriorado?
UBÍRACLES: Depende. Para alguns, pode não passar de entulho; para outros, pode ser a expressão de um colapso, um gesto simbólico, uma provocação. Se ao menos uma pessoa sentir algo, interpretar algo, experimentar algo — então, para ela, será arte.
SÓCRATES: Fascinante. Então não importa a intenção do autor, nem a forma visível da coisa. Basta a ressonância que ela provoca?
UBÍRACLES: Exato. A arte não reside na obra em si, mas na experiência subjetiva que ela evoca. É sempre relacional. A cadeira, ao evocar angústia ou crítica social em alguém, tornou-se arte — mesmo que por acaso.
SÓCRATES: E se essa mesma cadeira for exposta ao lado de uma pintura de Da Vinci? Estariam ambas no mesmo nível artístico, já que tudo depende do olhar?
UBÍRACLES: Não no mesmo nível histórico ou técnico, talvez. Mas no plano subjetivo, sim. A intensidade da experiência que um espectador tem diante da Monalisa pode ser menor do que a provocada por uma cadeira quebrada se essa, por alguma razão íntima, o confronta com a memória de um pai alcoólatra que a quebrou em fúria. A arte não é o objeto — é o impacto.
SÓCRATES: E as definições clássicas da arte? Aristóteles, por exemplo, propôs que a tragédia é a imitação de uma ação importante, completa, que provoca catarse — compaixão e terror. Isso não é uma definição suficientemente precisa?
UBÍRACLES: Para sua época, talvez. Mas mesmo então havia obras que escapavam a essa forma. Hoje, temos Esperando Godot, de Beckett — sem fábula tradicional, sem purgação emocional no molde aristotélico, mas indiscutivelmente trágica para muitos. E não é essa uma refutação viva à tentativa de fixar a arte numa essência?
SÓCRATES: Estás a dizer que a arte não pode ser definida por elementos fixos?
UBÍRACLES: Sim. Porque a arte evolui com as formas de vida. O que para uma época era impensável, para outra é sublime. Se congelamos a definição, transformamos a arte em um cadáver conceitual.
SÓCRATES: Mas se qualquer coisa pode ser arte, como distinguir entre o sublime e o banal? Entre uma sinfonia de Mahler e um áudio de WhatsApp com sons aleatórios?
UBÍRACLES: Pela experiência subjetiva. Uma criança pode ser tocada por um áudio cheio de ruídos se esses ruídos evocam em sua memória algo afetivo. Não há hierarquia universal na arte — há encontros singulares. Claro, há convenções culturais que orientam gostos e repertórios, mas elas não são ontológicas. São sociais.
SÓCRATES: Dize-me então: se um artista gravar a morte real de um animal e o apresentar como expressão estética sobre o sofrimento, seria isso arte?
UBÍRACLES: Se provocar uma experiência estética, mesmo que negativa, então sim — é arte. O fato de ser abominável eticamente não a torna menos arte. A arte pode ser perturbadora, violenta, moralmente questionável. Mas isso não nega seu estatuto estético.
SÓCRATES: E os limites morais? Não há um ponto em que a arte deva ser impedida?
UBÍRACLES: Somente a lei deve impedi-la. A moral é subjetiva, e não cabe à arte se submeter à moral de uma maioria. Se a sociedade considera algo intolerável, que legisle. Fora disso, a arte deve ser livre.
SÓCRATES: Estás disposto a aceitar que até mesmo uma obra com uma suástica nazista pintada com esmero e colocada num museu seja considerada arte, desde que alguém encontre ressonância estética?
UBÍRACLES: Sim. Mas com uma distinção: não se trata de legitimá-la como “boa” ou “aceitável”. Trata-se de reconhecer que a experiência estética pode existir até em obras repugnantes. A arte não é ética — ela apenas a atravessa. O repúdio coletivo pode impedir sua exposição, mas não seu estatuto ontológico enquanto arte.
SÓCRATES: E se um político, para manipular uma audiência, se apresenta num palco chorando falsamente e diz: “Não é mentira, é performance”? Isso também seria arte?
UBÍRACLES: Pode ser — ainda que imoral. O que importa é se alguém, ao vê-lo, experimenta a performance como arte. A intenção do político pode ser estratégica, mas a recepção é incontrolável. Há arte até no engano, se ele toca alguém como experiência estética.
SÓCRATES: Tu colocas, então, o juízo artístico no coração do espectador. Mas e se ninguém mais o considerar arte? Seria ainda arte?
UBÍRACLES: Sim. Para o criador, sim. A arte é antes de tudo uma experiência singular. Se ninguém a compartilha, ela permanece como arte privada. Se compartilhada, ganha status público. Mas a ausência de recepção não nega sua natureza para quem a fez.
SÓCRATES: E que dizer da crítica de arte, da curadoria, da educação estética?
UBÍRACLES: São práticas válidas, mas não supremas. O crítico expressa sua subjetividade informada; o público expressa a sua vivência direta. Nenhuma delas é superior. Os museus existem porque há pessoas dispostas a pagar por essa experiência. Que assim seja. Mas isso não legitima uma obra mais que outra.
SÓCRATES: Reconheço tua coragem. Aceitaste as implicações mais difíceis de tua visão. Disseste, em essência:
- A arte não tem essência.
- Seu sentido está no encontro entre subjetividades.
- O autor pode não ver arte em sua obra, e ainda assim ela o será para alguém.
- A única barreira legítima à arte é a lei, não a moral.
Aceitas esse juízo final?
UBÍRACLES: Com tranquilidade. O sublime e o banal só se distinguem pelos olhos de quem vê. E é aí que a arte vive — nesse olhar que toca e é tocado.
SÓCRATES: Então venceste não a mim, mas a Aristóteles. E o fizeste sem temor de que o mundo se torne relativista demais — pois aceitaste a beleza do risco em nome da liberdade.
UBÍRACLES: A liberdade, Sócrates, é a matéria-prima da arte. Não se pode moldá-la com fórmulas sem destruí-la. Melhor uma arte sem essência do que uma essência sem arte.
(Silêncio. Sócrates olha mais uma vez para a cadeira quebrada. Depois, sorri.)
SÓCRATES: Então quebremos as definições. Que fiquem as perguntas — essas, sim, obras eternas.
Cai o pano.
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