Hegel – Citações: A Doutrina do Ser

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Primeira parte A lógica objetiva

Introdução Conceito geral da lógica

Em todas as outras ciências, o objeto a ser abordado e o método científico estão separados um do outro; bem como o conteúdo também não constitui um início absoluto, mas depende de outros conceitos e encontra-se dependente de outras matérias circundantes

A lógica, ao contrário, não pode pressupor nenhuma dessas formas da reflexão ou regras e leis do pensamento, pois elas constituem uma parte de seu conteúdo mesmo e tem de ser primeiramente fundamentadas no interior dela

O que a lógica é, ela não pode, por conseguinte, dizer previamente, e sim todo o seu tratamento produz primeiramente esse saber dela mesma como algo que é sua última manifestação e como sua consumação.

Do mesmo modo, seu objeto, o pensar ou mais determinadamente o pensamento conceitual, é essencialmente tratado no interior da mesma; o conceito do mesmo gera-se a si mesmo em seu decurso e não pode ser presumido

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Em primeiro lugar, porém, já é inapropriado dizer que a lógica se abstrai de todo conteúdo,que ela apenas ensina as regras do pensamento, sem poder se dedicar ao que é pensado elevar em conta a sua constituição. Pois, uma vez que o pensamento e as regras do pensamento devem ser seu objeto, ela já possui assim imediatamente seu conteúdo peculiar;ela também tem com isso aquele segundo elemento do conhecimento, a matéria, de cuja constituição ela se ocupa.

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o objeto é algo para si consumado, acabado, que poderia dispensar perfeitamente o pensamento para a sua efetividade; ao contrário, o pensamento seria algo deficiente, que primeiramente teria de se completar com uma matéria e, na verdade, como uma forma dócil e indeterminada, teria de se adaptar à sua matéria. Verdade é a concordância do pensamento com o objeto e, a fim de produzir essa concordância – pois ela não está em si e para si dada – o pensamento deve ajustar-se e acomodar-se ao objeto

Em terceiro lugar, na medida em que a diversidade da matéria e da forma, do objeto e do pensamento, não é abandonada àquela indeterminidade nebulosa, mas é tomada de modo mais determinado, assim cada uma é uma esfera separada da outra

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A metafísica antiga tinha a esse respeito um conceito mais elevado do pensamento do que aquele que se tornou corrente em época mais recente. Aquela tinha como pressuposto que aquilo que é reconhecido nas e pelas coisas por meio do pensamento é o que é unicamente a verdade verdadeira nelas, ou seja, não elevava as coisas em sua imediatidade, mas primeiramente as elevava na forma do pensamento, como algo pensado. Essa metafísica considerava que o pensamento e as determinações do pensamento não eram algo estranho aos objetos, mas antes eram a sua própria essência ou que as coisas e o pensamento dos objetos (assim como também a nossa língua indica um parentesco entre esses dois termos)concordam em si e para si, que o pensamento em suas determinações imanentes e a natureza verídica das coisas são um e o mesmo conteúdo

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As determinações do finito e do

infinito estão no mesmo conflito, sejam elas aplicadas ao tempo e ao espaço, ao mundo,sejam elas determinações no interior do espírito – da mesma forma que o preto e o branco resultam no cinza, sejam misturados um com o outro numa parede ou numa paleta

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Aquela crítica, portanto, apenas afastou da coisa as formas do pensamento objetivo, mas as deixou no sujeito tal como as encontrou. Assim, ela não considerou essas formas em si e para si mesmas segundo seu conteúdo peculiar, mas as acolheu segundo lemas da lógica subjetiva; de modo que não se tratou de uma dedução delas mesmas e nelas mesmas ou de uma dedução das mesmas como de formas subjetivas lógicas e muito menos de uma consideração dialética.

O idealismo transcendental executado de modo consequente reconheceu a nulidade do espectro da coisa em si, ainda deixado como resquício pela filosofia crítica, essa sombra abstrata apartada de todo conteúdo, e teve como finalidade destruí-la completamente. Essa filosofia também fez o início que permitiu à razão expor suas determinações a partir dela mesma. Mas a postura subjetiva dessa tentativa não permitiu que chegasse a uma consumação. Além disso, essa postura e com ela também aquele início e desenvolvimen toda ciência pura foram abandonados.

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Fenomenologia do espírito

Uma fundamentação raciocinada ou um esclarecimento do conceito da ciência pode no máximo realizar o seguinte: que seja levado à representação e se provoque um conhecimento histórico do mesmo.

Mas ocorre sem cessar que aqui e ali se acrescentam um caso e uma instância, com o que se teria de compreender ainda algo mai se algo diferente nessa ou naquela expressão, em cuja definição ainda é, portanto, acolhido uma determinação mais precisa ou mais universal e, segundo isso, teria de se orientar a ciência. – O quê e até que limite e amplitude algo deve ser incorporado ou excluído,depende, além disso, do raciocinar; mas para o raciocinar mesmo permanece aberta a possibilidade a mais variada e diferenciada de admitir algo, com o que, por fim, a arbitrariedade pode consolidar uma firme determinação. Nesse procedimento de iniciar a ciência com a sua definição, não se fala nunca da carência de que seja indicada a necessidade de seu objeto e, com isso, a necessidade dela mesma

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A pura ciência pressupõe, com isso, a libertação da oposição da consciência. Ela contém o pensamento na medida em que ele é igualmente a questão em si mesma ou a questão em si mesma na medida em que ela é igualmente o puro pensamento. Como ciência, a verdade é apura consciência de si que se desenvolve e tem a figura do si mesmo, a saber, que o ente em si e para si é conceito sabido, mas o conceito enquanto tal é o ente em si e para si. Esse pensamento objetivo é, pois, o conteúdo da ciência pura. Por conseguinte, ela é tão pouco formal, dispensa tão pouco a matéria de um conhecimento efetivo e real que, pelo contrário,seu conteúdo é antes a verdade absoluta ou, se ainda preferirmos nos servir da palavra matéria, ela é a matéria verídica – mas uma matéria para a qual a forma não é algo exterior,já que essa matéria é muito mais o puro pensamento, em suma, a própria forma absoluta.

A lógica tem de ser desse modo apreendida como o sistema da razão pura, como o reino do puro pensamento. Esse reino é a verdade, como ela é em si e para si mesma, sem invólucro.

Por causa disso podemos exprimir que esse conteúdo é a exposição de Deus, tal como ele é em sua essência eterna antes da criação da natureza e de um espírito finito Anaxágoras é celebrado como aquele que expressou pela primeira vez o pensamento, ao afirmar que o nus, o pensamento, tem de ser determinado como princípio do mundo e que a essência do mundo tem de ser determinada como o pensamento. Com isso ele lançou o fundamento de uma visão intelectual do universo, cuja configuração pura tem de ser a lógica. Não se trata nela de um pensamento sobre algo, que residiria por si mesmo, como base, fora do pensamento, nem de formas que deveriam fornecer meros indícios da verdade;e sim as formas necessárias e as próprias determinações do pensamento são o conteúdo e a própria verdade suprema

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A fim de captar esse ponto, pelo menos no nível da representação, tem de ser deixada de lado a opinião de que a verdade tem de ser algo palpável. Tal palpabilidade é ainda, por exemplo, introduzida nas ideias platônicas, que estão no pensamento de Deus, como se elas fossem, por assim dizer, coisas existentes, com a diferença que estão num outro mundo ou região, no exterior do qual se encontraria o mundo da efetividade e que este teria uma substancial idade distinta daquelas ideias, primeiramente real por meio dessa diferença. A ideia platônica não é nada mais do que o universal ou mais determinadamente o conceito do objeto

Por outro lado, porém, podemos evocar as próprias

representações da lógica comum; admite-se, com efeito, que definições, por exemplo, não contém determinações que apenas recaem no sujeito conhecedor e sim as determinações do objeto que constituem a sua natureza mais própria e essencial. Ou quando se parte de determinações dadas se deduz outras, admite-se que o que foi descoberto não é algo exterior e estranho ao objeto, mas que antes pertence a ele mesmo, que a esse pensamento corresponde o ser.

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Para que esse esqueleto morto da lógica seja vivificado por meio do espírito para umasubstância e conteúdo, seu método tem de ser aquele por meio do qual ela é unicamentecapaz de ser ciência pura. No estado no qual se encontra mal se pode reconhecer umpressentimento de método científico. Ela tem aproximadamente a forma de uma ciênciaexperimental.

As ciências experimentais encontraram, até onde é possível, para aquilo quePágina 17

devem ser, seu método peculiar de definir e de classificar sua matéria. Também amatemática pura possui seu método, que é apropriado para seus objetos abstratos e para adeterminação quantitativa, segundo a qual ela unicamente os considera.

Até hoje a filosofia ainda não encontrou o seu método; ela observava cominveja o edifício sistemático da matemática e o emprestou dela, como eu já disse, ou seserviu do método das ciências que são apenas misturas de matérias dadas, de princípios daexperiência e de pensamento – ou também se auxiliou com o desprezo rude de todo método.

Mas a exposição do que unicamente pode ser o método verídico da ciência filosófica recaino interior do tratado da própria lógica; pois o método é a consciência sobre a forma dointerior movimento de si de seu conteúdo.

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A única coisa para alcançar a progressão científica – e

em vista de cuja intelecção inteiramente simples é necessário se empenhar de modoessencial – é o conhecimento do enunciado lógico de que o negativo é igualmente positivoou que o que se contradiz não se dissolve no que é nulo, no nada abstrato, masessencialmente apenas na negação de seu conteúdo particular ou que uma tal negação não étoda negação, e sim a negação da questão determinada que se dissolve, com o que é negaçãodeterminada; que, portanto, no resultado está contido essencialmente aquilo do qual resulta o que é propriamente uma tautologia, pois de outro modo seria um imediato, não umresultado. Na medida em que o que resulta, a negação, é negação determinada, ela possuium conteúdo. Ela é um novo conceito, mas conceito mais elevado, mais rico do que oprecedente; pois ela se tornou mais rica devido a essa negação ou oposição; ela, portanto, ocontém, mas também mais do que ele, e é a unidade dele e do seu oposto. – Nesse caminhotem de se formar em geral o sistema dos conceitos – e se consumir em um percursoirresistível, puro, que não traz nada de fora para dentro

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Assim, aquele

que se aproxima da ciência encontra na lógica inicialmente um sistema isolado deabstrações que, limitadas a si mesmas, não se estendem para além dos outros conhecimentose ciências.

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As outras ciências desprezaram inteiramente o

método regulamentado de serem uma sequência de definições, axiomas, teoremas e suasprovas etc.; a assim chamada lógica natural faz-se valer por si mesma nelas e se auxilia semum conhecimento específico, voltado para o próprio pensamento. Mas a matéria e oconteúdo dessas ciências se mantém por si mesmo inteiramente independentes do lógico esão também mais acessíveis para o sentido, o sentimento, a representação e o interesseprático de toda espécie

Assim, sem dúvida a lógica tem de ser primeiramente aprendida como algo que certamentese compreende e se penetra, mas cuja amplitude, profundidade e significado ulterior, deinício, não se consegue medir.

Apenas a partir do conhecimento mais profundo das outras

ciências eleva-se para o espírito subjetivo o lógico como um universal não apenas abstrato, esim como a riqueza do universal que abrange em si mesmo o particular;Desse modo, o elemento

lógico primeiramente atinge a apreciação de seu valor quando se tornou o resultado daexperiência das ciências; ele se apresenta ao espírito a partir delas como a verdade universal,não como um conhecimento particular ao lado de outras matérias e realidades, mas simcomo a essência de todo esse outro conteúdo

O sistema da lógica é o reino das sombras, o mundo das determinaçõesessenciais, libertado de toda concreção sensível. O estudo dessa ciência, a estadia e oPágina 24

trabalho nesse reino de sombras é a formação absoluta e a disciplina da consciência. Elarealiza aí uma ocupação afastada das intuições e dos fins sensíveis, dos sentimentos e domero mundo da representação apenas visado.

Mas o pensamento conquista especialmente desse modo a autonomia e a independência. Elese familiariza com o que é abstrato e, na progressão por meio de conceitos sem substratossensíveis, ele se torna a potência inconsciente de acolher na forma racional a multiplicidaderestante dos conhecimentos e as ciências, de apreendê-las e retê-las no que têm de essencial,de afastar o exterior e, desse modo, extrair delas o lógico – ou, o que é o mesmo, depreencher a base abstrata da lógica, alcança da anteriormente por meio do estudo, com oconteúdo de toda a verdade e dar-lhe o valor de um universal, o qual não está mais como umparticular ao lado de outro particular, mas se estende sobre tudo isso e é sua essência, overdadeiro-absoluto.

Divisão geral da lógica

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Mas o próprio conceito da lógica foi indicado na introdução como o resultado de umaciência que reside num outro lugar e que aqui foi igualmente indicada como umapressuposição. Dessa maneira, a lógica se determinou como a ciência do pensamento puro,que tem como seu princípio o saber puro, a unidade não abstrata, mas desse modo concretae viva. Nela, a oposição da consciência entre, de um lado, um ente por si mesmo subjetivo e,de outro lado, um segundo ente desse tipo, um objetivo, é sabida como superada, e o ser ésabido como puro conceito nele mesmo e o puro conceito como o verdadeiro ser. Esses sãoassim os dois momentos que estão contidos no lógico.

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A lógica teria de ser desse modo inicialmente dividida na

lógica do conceito como ser e do conceito como conceito ou – na medida em que nosservimos das restantes expressões comuns, embora as mais indeterminadas e, por isso, asmais polissêmicas – na lógica objetiva e na lógica subjetiva.

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A seguir, porém, a lógica objetiva

abrange em si mesma também a meta física restante, na medida em que essa procurouapreender com as formas puras de pensamento os substratos particulares, inicialmentetomados da representação, a alma, o mundo, Deus e as determinações do pensamentoconstituíram o essencial do modo de consideração. Mas a lógica considera essas formaslivres daqueles substratos, dos sujeitos da representação e sua natureza e valor em si e parasi mesmos. Aquela metafísica desistiu disso e atraiu para si a acusação justa de tê-lasempregado sem crítica, sem a investigação prévia para saber se elas e como elas são capazesde serem determinações da coisa em si, segundo a expressão kantiana, ou muito mais doracional. – A lógica objetiva é, por conseguinte, a crítica veraz das mesmas – uma crítica quenão as considera segundo a forma abstrata da aprioridade contra a aposterioridade, mas elasmesmas em seu conteúdo particular.

A lógica, portanto, de modo geral se divide em lógica objetiva e subjetiva, mas de modomais determinado ela possui três lados:

A lógica do ser,

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A lógica da essência e

A lógica do conceito.

Primeiro Livro A DOUTRINA DO SER

O princípio de uma filosofia certamente expressa também um início, mas menos um iníciosubjetivo do que um início objetivo, o início de todas as coisasO princípio é um conteúdo

de algum modo determinado: a água, o um, o nous, a ideia – a substância, a mônada etc.; ouquando se relaciona à natureza do conhecimento e assim deve ser antes um critério do queuma determinação objetiva – o pensar, o intuir, o sentir, o eu, a subjetividade mesma -, entãoaqui o interesse igualmente se dirige para a determinação do conteúdo.

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Assim, o princípio também deve ser

início e aquilo que é anterior ao pensamento também deve ser o primeiro no curso dopensamento.

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Mas no que concerne à discussão científica,

em todo enunciado lógico surgem as determinações da imediatidade e da mediação e,portanto, a discussão de sua oposição e sua verdade.

Na medida em que essa oposição, na

relação com o pensamento, o saber, o conhecimento, alcança a configuração mais concretado saber imediato e mediado, a natureza do conhecimento em geral é tanto considerada nointerior da ciência da lógica bem como recai em sua forma ulterior concreta na ciência doespírito e na fenomenologia do mesmo.

Lógico é o início se ele deve ser feito no elemento do pensamento existente livre por simesmo, no saber puro. Mediado ele é desse modo pelo fato de que o saber puro é a últimaverdade absoluta da consciência.

A lógica tem, por conseguinte, como

sua pressuposição a ciência do espírito que aparece, a qual contém e demonstra anecessidade e a prova da verdade do ponto de vista do que é o saber puro, assim como desua mediação em geral

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A lógica é a ciência pura, isto é, o saber

puro em toda a amplitude de seu desenvolvimento. Essa ideia, porém, determinou-se atéaquele resultado como a certeza que se tornou verdade, a certeza que, de um lado, não estámais em oposição ao objeto, mas o tornou algo interior, o sabe como a si mesmaA simples imediatidade é ela mesma uma expressão de reflexão e se relaciona com adiferença do que é mediado. Em sua expressão verdadeira, essa imediatidade simples é, porconseguinte, o ser puro. Assim como o saber puro nada significa senão o saber como tal,inteiramente abstrato, assim também o ser puro não deve significar nada mais senão o serem geral; ser, nada mais, sem nenhuma determinação ulterior e preenchimento.

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Aqui o ser é o que inicia, exposto como surgido por meio da mediação e, na verdade, pormeio da mediação que é ao mesmo tempo a superação de si mesma; com a pressuposição dosaber puro como resultado do saber finito, da consciência.

Assim, o início tem

de ser início absoluto ou, o que aqui significa a mesma coisa, início abstrato; assim, ele nãopode pressupor nada, ele não pode ser mediado por meio de nada, nem possuir umfundamento; ele deve antes ser ele mesmo o fundamento da ciência inteira. Ele tem de ser,por conseguinte, pura e simplesmente um imediato ou antes apenas o imediato mesmo.

Assim como ele não pode ter uma determinação diante de outra coisa, do mesmo modo elenão pode também conter nenhuma nele mesmo, nenhum conteúdo, pois o mesmo seria adiferença e a relação do que é distinto um para com o outro, ou seja, uma mediaçãoO início

é, portanto, o ser puro.

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E, na verdade, ela

o representa de modo que a progressão na filosofia é antes um retroceder e um fundamentar,por meio dos quais primeiramente resulta que aquilo com o que foi iniciado não émeramente algo aceito por arbitrariedade, mas de fato é em parte o verdadeiro, em parte oprimeiro verdadeiro

Temos de admitir que é uma consideração essencial – que se dará mais precisamente nointerior da lógica mesma – que o progredir é um retroceder ao fundamento, para o originárioe o verídico, dos quais depende aquilo com que é feito o início e pelos quais de fato éproduzido.

Assim, a consciência é reconduzida em seu caminho desde a imediatidade, coma qual inicia, para o saber absoluto como a sua mais íntima verdade. Este último, ofundamento, é então também aquilo a partir do qual surge o primeiro, que se apresentouprimeiramente como o imediato.

E, assim, o espírito absoluto, que resulta como a verdade

suprema, concreta e última, de todo ser, é ainda mais conhecido como renunciando comliberdade no fim do desenvolvimento e abandonando a configuração de um ser imediatoPágina 38

A esse respeito o

primeiro é igualmente o fundamento e o último é algo deduzido; na medida em que se partedo primeiro e, por meio de deduções corretas, se chega ao último como ao fundamento, esteé resultado.

Assim, o início da

filosofia é a base que se mantém e é presente em todo desenvolvimento subsequente, o quepermanece completamente imanente à suas determinações ulteriores.

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um determinado contém outro como um primeiro. Reside, portanto, na natureza do iníciomesmo que ele é o ser e nada mais. Não é necessário, por conseguinte, nenhuma outrapreparação para entrar na filosofia, nem reflexões de outra ordem e pontos de amarração.

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Pois a filosofia

aqui no início, onde a questão mesma ainda não está presente, é uma palavra vazia ouqualquer representação ilegítima aceita. O saber puro dá apenas essa determinação negativade que ele tem de ser o início abstrato. Na medida em que o ser puro é tomado comoconteúdo do saber puro, então esse tem de retroceder diante de seu conteúdo, deixá-lo à suaprópria sorte e não determiná-lo ulteriormente.

Mas a determinação do ser até agora aceita como início poderia também ser deixada delado, de modo que apenas seria exigido que fosse feito um início puro. Então não há nadamais presente do que o início mesmo e seria preciso ver o que ele é.

porque o início, enquanto início do pensamento, deve ser inteiramente abstrato,inteiramente universal, inteiramente forma sem nenhum conteúdo; nós não teríamos assimPágina 41

nada senão a representação de um mero início como tal.

Ainda não é nada e deve ser algo. O início não é o nada puro, mas um nada do qual algodeve partir; o ser, portanto, também já está contido no início. O início contém, portanto,ambos, ser e nada; é a unidade de ser e nada – ou um não ser que é ao mesmo tempo ser eum ser que é ao mesmo tempo não ser.

Além disso: ser e nada são no início presentes como distintos; pois o início aponta para algooutro; – ele é um não ser que está relacionado com o ser como com outro; o que inicia aindanão é; ele primeiramente avança para o ser. O início contém, portanto, o ser como tal que seafasta do não ser ou o suprime como algo que lhe é oposto.

Além disso, porém, o que inicia já é; mas da mesma maneira ainda não é. Os opostos, ser enão ser estão, portanto, nele, em unificação imediata; ou ele é sua unidade indistinta.

A análise do início daria assim o conceito da unidade do ser e do não ser – ou, na formarefletida, da unidade do ser distinto e do ser indistinto – ou da identidade da identidade e danão identidade. Esse conceito poderia ser considerado como a primeira, a mais pura e a maisabstrata definição do absoluto –

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a determinação que surge primeiramente no saber

é algo simples, pois apenas no simples não há mais do que o início puro; apenas o imediatoé simples, pois apenas no imediato ainda não há uma progressão de um para outro. O queassim deve ser expresso sobre o ser ou estar contido nas formas mais ricas do representar doabsoluto ou de Deus, é no início uma palavra vazia e apenas ser; esse simples, que nãopossui outra significação ulterior, esse vazio é, portanto, pura e simplesmente o início dafilosofia.

Essa intelecção é ela mesma tão simples que esse início como tal não carece de nenhumapreparação prévia nem de uma introdução ulterior; e essa antecipação de raciocínios sobreele não pôde ter o propósito de produzi-lo, senão muito mais o de afastar toda antecipaçãoPágina 47

Divisão geral do ser

O ser, em primeiro lugar, é em geral determinado diante de outro; em segundo lugar, ele édeterminante no interior dele mesmo; em terceiro lugar, uma vez que foi afastada essaantecipação do dividir, ele é a indeterminidade e imediatidade abstratas, nas quais ele tem deser o início.

Segundo a primeira determinação, o ser se delimita diante da essência,De acordo com a segunda determinação, ele é a esfera no interior da qual recaem asdeterminações

Nela, o ser vai se pôr nas três determinações;

como determinidade como tal; qualidade;

como determinidade superada; grandeza, quantidade;

como quantidade qualitativamente determinada; medida.

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Apenas isso pode ser observado: muitas vezes a determinação da quantidade é apresentadaantes da qualidade, e isso – como na maior parte dos casos – sem fundamento ulterior.

Apartir da comparação da qualidade com a quantidade torna-se claramente evidente queaquela é a primeira segundo a natureza. Pois a quantidade já é a qualidade que se tornounegativa; a grandeza é a determinidade que não está mais unida com o ser, e sim já é distintadele, é a qualidade superada, tornada indiferente

A qualidade, por conseguinte,

como a determinidade imediata, é a primeira e com ela tem de ser feito o inícioPágina 49

Primeira seção Determinidade (qualidade)

O ser é o imediato indeterminado; ele é livre da determinidade diante da essência, bemcomo de qualquer determinidade que pode conservar no interior de si mesmo. Esse serdestituído de reflexão é o ser tal como é imediatamente apenas nele mesmo.

Porque é indeterminado, ele é ser destituído de qualidade; mas em si cabe-lhe o caráter daindeterminidade apenas em oposição ao determinado ou o qualitativo. Diante do ser emgeral, porém, surge o ser determinado como tal; com isso, sua indeterminidade constitui elamesma sua qualidade.

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A. Ser

Ser, puro ser – sem nenhuma determinação ulterior. Em sua imediatidade indeterminada eleé apenas igual a si mesmo e não desigual diante de outro, não possui nenhuma diversidadeno interior de si nem para o exterior. Por meio de alguma determinação ou conteúdo, queseria nele distinto ou por meio do qual ele poderia ser posto como distinto de outro, ele nãoseria apreendido em sua pureza. Ele é a pura indeterminidade e o vazio. – Não há nada aintuir nele, caso seja aqui possível falar de intuir; ou ele é apenas este intuir puro, vaziomesmo. Tampouco é possível pensar algo nele ou ele é igualmente apenas esse pensar vazio.

O ser, o imediato indeterminado é de fato o nada e nem mais nem menos do que nadaB. Nada

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O puro ser e o puro nada são, portanto, o mesmo.

O que é a verdade, não é nem o ser nem o

nada, mas que o ser não passa, mas passou para o nada e o nada não passa, mas passou parao ser. Da mesma maneira, porém, a verdade não é sua indistinção, e sim que eles não são omesmo, que são absolutamente distintos, mas igualmente inseparados e inseparáveis eimediatamente cada um desaparece em seu contrário. Sua verdade é, portanto, essemovimento do desaparecer imediato de um no outro: o devir; um movimento onde ambossão distintos, mas por meio de uma diferença que igualmente se dissolveu imediatamente.

Costuma-se opor o nada a algo; mas algo já é um ente determinado, que se distingue deoutro algo; assim, portanto, também o nada oposto a algo, o nada de qualquer algo é umnada determinado. Aqui, porém, o nada tem de ser tomado em sua simplicidadeindeterminada. – Se quiséssemos considerar como sendo mais correto que, ao invés de oporo nada ao ser, fosse oposto o não ser, então não se teria nada a objetar ao resultado, porqueno não ser está contida a relação com o ser; ele é ambos, ser e a negação do mesmo,expressado em um, o nada, tal como é no devir. Mas, de início não temos de tratar da formada oposição, isto é, ao mesmo tempo da relação, e sim da negação abstrata, imediata, o nadapuramente para si, a negação destituída de relação – o que se poderia, porém, se quisermos,também expressar pelo mero nada.

Os Eleatas expressaram pela primeira vez o pensamento simples do puro ser, especialmenteParmênides, como sendo o absoluto e a única verdade e, nos fragmentos que restaram deParmênides, ele, com o puro entusiasmo do pensamento que pela primeira vez se apreende aPágina 52

si em sua abstração absoluta, expressou: apenas o ser é e o nada não é. – Nos sistemasorientais, essencialmente no budismo, o nada, o vazio, é notoriamente o princípio absoluto. O profundo Heráclito ressaltou contra aquela abstração simples e unilateral o conceito totalmais elevado do devir e disse: o ser é tampouco como o nada, ou também: tudo flui, o quesignifica: tudo é devir. – Os ditos populares, particularmente os orientais, que afirmam quetudo o que é tem o germe de seu desaparecimento em seu nascer e que a morte,inversamente, é o ingresso em uma nova vida, expressam no fundo a mesma unificaçãoentre o ser e o nada. Mas essas expressões possuem um substrato no qual ocorre apassagem; o ser e o nada são separados no tempo, representados como nele se alternando,mas não pensados em sua abstração e, por conseguinte, também não de modo que são em sie para si o mesmo.

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Ser e não ser é o mesmo; portanto, é o mesmo se sou ou não sou, se essa casa é ou não é, seesses cem táleres estão ou não em meu patrimônio.

O enunciado contém as abstrações puras de

ser e nada; a aplicação, porém, faz disso um ser determinado e um nada determinado.

Entretanto, como já foi dito, não se trata aqui do ser determinado. Um ser determinado,finito, é um ser que se refere a outro; é um conteúdo que se encontra numa relação denecessidade com outro conteúdo, com o mundo todo.

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s. É próprio da definição das coisas finitas

que nelas o conceito e o ser sejam distintos, que o conceito e a realidade, a alma e o corposão separáveis, ou seja, são passageiros e mortais; a definição abstrata de Deus, ao contrário,é justamente essa, que seu conceito e seu ser são inseparados e inseparáveis. A verdadeiracrítica das categorias e da razão é justamente a de informar o conhecimento sobre essadiferença e afastá-la de aplicar as determinações e relações do finito a Deus.

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Na

medida em que o enunciado “o ser e o nada é o mesmo” exprime a identidade dessasdeterminações, mas de fato contém igualmente ambos como distintos, ele se contradiz a siem si mesmo e se dissolve. Se apreendermos isso de modo mais preciso, temos aqui,portanto, posto um enunciado que, considerado mais atentamente, possui o movimento dedesaparecer por meio de si mesmo. Mas, com isso ocorre nele mesmo o que deve constituirseu conceito próprio, a saber, o devir.

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A fim de expressar a verdade especulativa, a deficiência é de início corrigida no sentido deque o enunciado oposto é acrescentado, o enunciado “o ser e o nada não é o mesmo”, queanteriormente foi da mesma maneira expressado. Só que assim surge a deficiência ulteriorde que esses enunciados não são unidos, ou seja, apenas expõem o conteúdo na antinomia,ao passo que seu conteúdo se relaciona, todavia, com um e o mesmo e as determinações,que são expressas nos dois enunciados, devem pura e simplesmente ser unificadas – umaunificação que então apenas pode ser expressa como uma inquietação de incompatíveis aomesmo tempo, como um movimento.

A injustiça mais comum contra o conteúdo

especulativo é torná-lo unilateral, isto é, ressaltar apenas um dos enunciados nos quais elepode ser dissolvido. Então não pode ser negado que esse enunciado é afirmado; a indicaçãoé tão correta quanto falsa, pois quando é tomado do especulativo um enunciado, teria aomenos de ser observado e indicado igualmente o outro.

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Assim, o resultado inteiro, verdadeiro, que aqui resultou, é o devir, que não é a unidademeramente unilateral e abstrata do ser e do nada. E sim subsiste nesse movimento, que opuro ser é imediato e simples, que por isso é da mesma maneira o puro nada, que a diferençados mesmos é, mas da mesma maneira se suprime e não é. O resultado afirma, portanto, adiferença entre o ser e o nada, mas como uma diferença apenas intencionada.

Aqueles que

querem insistir na diferença entre o ser e o nada poderiam desafiar-se a si mesmos e indicaronde ela reside. Se o ser e o nada tivessem alguma determinidade, por onde eles sedistinguiriam, eles seriam, tal como foi recordado, ser determinado e nada determinado, nãoo puro ser e o puro nada, tal como eles ainda o são aqui

Sua diferença é, por conseguinte,

completamente vazia, cada um dos dois é de igual modo o indeterminado; ela não consiste,por conseguinte, neles mesmos, mas em um terceiro, no visar. Mas o visar é uma forma dosubjetivo, que não pertence a essa série da exposição

O terceiro, porém, onde o ser e o nada

têm sua subsistência, também tem de ocorrer aqui; e de fato ele já ocorreu, é o devir. O ser eo nada são nele como distintos; o devir apenas existe na medida em que eles são distintos.

Esse terceiro é outro em relação a eles; – eles subsistem apenas em outro, o que significaigualmente que não subsistem por si só. O devir é o subsistir do ser bem como do não ser;Página 63

A exigência de indicar a diferença entre o ser e o nada também engloba em si a exigência dedizer o que é, pois, o ser e o nada.

Quando foi dito que a existência, na medida em que inicialmente a tomamos como tendosignificado idêntico com o ser, é o complemento à possibilidade, então é pressuposta outradeterminação, a possibilidade, e o ser não é expresso em sua imediatidade, inclusive éexpresso como não autônomo, como condicionado.

Para o ser que é mediado iremos manter

a expressão existência. Mas, certamente representamos diante de nós o ser – por exemplo,com a imagem da pura luz, como a clareza da visão não turvada, e o nada, porém,representamos como sendo a pura noite – e ligamos sua diferença a essa diversidade sensívelbastante conhecida.

De fato, porém, quando também representamos esse ser de modo maisexato, podemos facilmente perceber que vemos tanto na clareza absoluta quanto naescuridão absoluta; que um ver assim como o outro ver, o puro ver, são um ver nada. A puraluz e a pura escuridão são dois vazios iguais.

Algo pode ser distinguido primeiramente na

luz determinada – e a luz é determinada por meio da escuridão – portanto, na luz turvada e,do mesmo modo, primeiramente na escuridão determinada – e a escuridão é determinada pormeio da luz – na escuridão clareada, pois primeiramente a luz turva e a escuridão clareadatêm a diferença nelas mesmas e, assim, são ser determinado, existência.

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A unidade, cujos momentos, o ser e o nada, são inseparáveis, é imediatamente distinta deles,ou seja, é um terceiro diante deles, o qual em sua forma mais peculiar é o devir.

Seja onde e como se trate do ser e do nada, esse terceiro tem de estar presente; poisaqueles não subsistem por si mesmos, mas apenas são no devi r, nesse terceiro.

Por isso, também me abstenho de levar em conta

as variadas objeções e refutações, que se tomam como tais, levantadas contra o fato de quenem o ser nem o nada são algo verdadeiro, mas apenas o devir é sua verdadePágina 65

A progressão que afirma que o ser é o mesmo que o

nada aparece então como um segundo e absoluto início – uma passagem que é para si e seacrescenta exteriormente ao ser. Ser não seria em geral o início absoluto, se tivesse umadeterminidade; nesse caso, ele dependeria de outro e não seria imediato, não seria o início.

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A síntese, que constitui o interesse, não deve ser tomada como umaligação de determinações já presentes no exterior – de um lado, trata-se propriamente dageração de um segundo em relação a um primeiro, de um determinado em relação a algoque inicia indeterminado; de outro lado, porém, trata-se da síntese imanente, a síntese apriori – a unidade em si e para si existente dos distintos.

O devir é essa síntese imanente do

ser e do nada; mas porque o sentido da união exterior de algo dado exteriormente um diantedo outro está mais próximo da síntese, o nome síntese, unidade sintética, foi corretamentecolocado em desuso.

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Inicialmente, se Jacobi se aferra ao espaço, ao tempo e também à consciência absolutos, istoé, abstratos, tem de ser dito que ele se situa e se atém desse modo a algo empiricamentefalso; não existe, isto é, empiricamente existentes, espaço e tempo que seriam algo espaciale temporal sem limite, que não seriam preenchidos em sua continuidade pela existência emutabilidade multiplamente limitadas, de modo que esses limites e modificações pertenceminseparados e inseparáveis à espacialidade e à temporalidade; da mesma maneira, aconsciência é preenchida com o sentimento, o representar e o desejar determinados; ela nãoexiste separada de qualquer conteúdo particular.

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Assim,

Parmênides, com a aparência e a opinião, tem de se haver com o oposto do ser e da verdade;assim também Espinosa com os atributos, com o modo, a extensão, o movimento, oentendimento, a vontade etc. A síntese contém e mostra a inverdade daquelas abstrações;elas estão nela em unidade com o seu outro, portanto, não como subsistindo por si só, nãocomo absolutas, e sim pura e simplesmente como relativas.

Mas, isso resulta imediatamente neles. Eles são, como Jacobi descreve exaustivamente,resultados da abstração, são expressamente determinados como indeterminados, o que – afim de retomar à sua forma a mais simples – é o ser. Justamente essa indeterminidade,porém, é o que constitui a determinidade dos mesmos;

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O nada, tomado em sua imediatidade, se mostra como

existente; pois, segundo a sua natureza, ele é o mesmo que o ser. O nada é pensado,representado, fala-se dele, logo ele é; o nada tem seu ser no pensar, no representar, no falar.

Esse ser, porém, mais adiante é distinto dele; diz-se, por conseguinte, que o nada certamentePágina 74

é no pensar, no representar, mas que por isso não é ele, que como talo ser não lhe cabe, queapenas o pensar ou o representar é esse ser.

Nesse ato de distinguir não se pode igualmente

negar que o nada está em relação com um ser; mas na relação, mesmo que também contenhalogo a diferença, está presente uma unidade com o ser. Seja de que modo o nada é expressoou demonstrado, ele se mostra em uma união ou, se quisermos, em contato com um ser,inseparado de um ser, justamente em uma existência.

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um nada negativo é

algo afirmativo. A reversão do nada, por meio de sua determinidade (que apareceuanteriormente como uma existência no sujeito ou seja lá onde for) em um afirmativo,aparece como sendo o mais paradoxal para a consciência que se prende à abstração doentendimento;

Ainda pode ser observado sobre a determinação da passagem do ser e do nada um no outroque a mesma tem de ser igualmente apreendida sem uma determinação de reflexão ulterior.

Ela é imediata e inteiramente abstrata, à favor da abstração dos momentos que estãopassando, isto é, na medida em que nesses momentos ainda não foi posta a determinidade dooutro momento, por meio do qual eles passaram de um a outro; o nada ainda não foi postono ser, embora o ser seja essencialmente o nada e vice-versa.

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Observação 4: Impossibilidade de apreender o início

Nada pode começar, nem enquanto é nem enquanto não é algo; pois, uma vez que é algo, elenão começa primeiramente; mas na medida em que não é algo, também não começa. – Se oPágina 77

mundo ou algo deveria ter começado, ele teria começado no nada, mas no nada não háinício ou o nada não é início; pois o início implica em si um ser, mas o nada não contémnenhum ser. Nada é apenas nada. Em um fundamento, causa etc., se o nada é assimdeterminado, está contida uma afirmação, um ser. – Pela mesma razão, algo não pode cessar.

Pois então o ser teria de conter o nada; mas o ser é apenas ser e não o contrário de si mesmo.

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Mas, contra isso, foi mostrado que o ser e o nada são de fato o mesmo ou, para falar aquela linguagem, que não existe de fato nada que não é um estado intermediário entre o ser e o nada. A matemática deve seus sucessos mais brilhantes à suposição daquela determinação que contradiz o entendimento

O raciocínio apresentado, que faz a falsa pressuposição da separabilidade absoluta do ser edo não ser, e nela permanece, não tem de receber o nome de dialética, e sim de sofistaria.

Pois a sofistaria é um raciocínio a partir de uma pressuposição destituída de fundamento,que se deixa valer sem crítica e irrefletidamente; dialética, porém, nós denominamos o movimento racional mais elevado, no qual tais elementos que aparecem pura e simplesmente separados por meio de si mesmos, por meio do que são, passam de um ao outro e a pressuposição de sua separabilidade se supera. É da natureza imanente dialética do ser e do nada que eles mesmos mostrem sua unidade, o devir, como a sua verdadeb. Momentos do devir

O devir, nascer e desaparecer, é a inseparabilidade de ser e nada; não a unidade que abstraido ser e do nada, mas, como unidade do ser e do nada, ele é a unidade determinada ou a unidade na qual tanto o ser quanto o nada é. Mas, uma vez que ser e nada são cada um separados de seu outro, o devir não é.

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O devir, portanto, contém o ser e o nada como duas unidades tais, das quais cada uma é unidade do ser e do nada; uma unidade é o ser como imediato e como relação com o nada; a outra unidade é o nada como imediato e como relação com o ser: as determinações estão num valor desigual nessas unidades.

O devir está, desse modo, numa determinação dupla; em uma determinação o nada é como imediato, ou seja, ela começa com o nada, que se relaciona com o ser, isto é, passa para o mesmo, na outra o ser é como imediato, isto é, ela começa com o ser, que passa para o nada- nascer e desaparecer.

Ambos são o mesmo, devir, e também como direções assim tão distintas eles se penetram ese paralisam reciprocamente. Uma direção é o desaparecer; o ser passa para o nada, mas o nada é da mesma maneira o oposto de si mesmo, passagem para o ser, nascer. Esse nascer é a outra direção; o nada passa para o ser, mas o ser da mesma maneira se supera a si mesmo e é antes a passagem para o nada, é desaparecer. – Eles não se superam reciprocamente, um não supera exteriormente o outro, mas cada um se supera a si mesmo em si mesmo e é em si mesmo o oposto de si mesmo.

c. Superação do devir

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Isso também poderia ser expresso da seguinte maneira: o devir é o desaparecer do ser no nada e do nada no ser e o desaparecer do ser e do nada em geral; mas ele repousa ao mesmo tempo sobre a diferença dos mesmos. Ele se contradiz, portanto, em si mesmo, porque une em si aquilo que é oposto para si; tal associação, porém, se destrói.

O devir como desaparecer na unidade do ser e do nada, a qual é como existente ou tem afigura da unidade unilateral imediata desses momentos, é a existência.

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Algo é apenas superado ao entrar em unidade com o

seu oposto; nessa determinação mais precisa, como algo refletido, algo pode ser apropriadamente chamado de momento

 

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