Preconceito Linguístico – Marcos Bagno – Leitura e Análise

Mito n° 1 – “A língua portuguesa falada no Brasil apresenta uma unidade surpreendente”

Ora, a verdade é que no Brasil, embora a língua falada pela grande maioria da população seja o português, esse português apresenta um alto grau de diversidade e de variabilidade, não só por causa da grande extensão territorial do país — que gera as diferenças regionais, bastante conhecidas e também vítimas, algumas delas, de muito preconceito —, mas principalmente por causa da trágica injustiça social que faz do Brasil o segundo país com a pior distribuição de renda em todo o mundo. (pg. 15-16)

Como a educação ainda é privilégio de muito pouca gente em nosso país, uma quantidade gigantesca de brasileiros permanece à margem do domínio de uma norma culta. Assim, da mesma forma como existem milhões de brasileiros sem terra, sem escola, sem teto, sem trabalho, sem saúde, também existem milhões de brasileiros sem língua. (pg. 15-16)

Comentários:

– Norma culta é uma coisa, norma padrão é outra. A normativa possui um aspecto funcional que é assegurar um certo grau de unidade do idioma independente das variantes regionais.

– Assegurar uma educação de qualidade da norma padrão é combater as injustiças sociais. É dar os meios para que as pessoas tenham condições de, através da educação, ir atrás de seus sonhos. Em vez disso, o autor sugere o que, no meu ver, só incentiva a perpetuação da injustiça social a partir do momento em que “aceita-se” a deficiência linguística e torna-a como uma variante do idioma.

Mito n° 2 – “Brasileiro não sabe português / Só em Portugal se fala bem português”

E por incrível que pareça, um dos principais obstáculos para a difusão no Brasil do cinema feito em Portugal é justamente… a língua — além das dificuldades de distribuição, ligadas ao quase monopólio do cinema americano. Como os brasileiros têm dificuldades em entender o português de Portugal, e como ficaria no mínimo estranho colocar legendas em filmes portugueses, o resultado é que praticamente nunca se vê filme português nos cinemas daqui. Temos a impressão de que Portugal não produz cinema, o que é falso: há bons cineastas portugueses, um dos quais, Manuel d’Oliveira, é reconhecido internacionalmente como um grande diretor. (pg. 25)

Comentários:

Acima um exemplo de um problema trazido pelo autor quando não se tem uma “norma padrão”. O problema que ocorre no cinema português é o mesmo que ocorreria ao jogar fora a normativa padrão e considerar como corretas cada variantes regional brasileira, à ponto, de possivelmente um filme de uma região brasileira não ser entendida em outra.

Na África e na Índia, encontram-se os dialetos, dependendo da região, porém ao mesmo tempo, existe o idioma oficial do país. Muitas pessoas falam vários dialetos além do idioma oficial. Nestes casos, não se busca a unidade e sim, se oficializa a diversidade por meio dos dialetos ainda que se tenha um idioma oficial como normativa padrão. No Brasil, se as diferenças regionais não são gritantes, então em vez de se estabelecer dialetos, busca-se a unidade por meio de uma normativa padrão. O que o autor parece querer, é estabelecer “semi-dialetos” para respeitar as diversidades regionais.

 

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