Karl Popper e a Ciência

Karl Popper é considerado um dos maiores filósofos da ciência do século XX, se colocando como um crítico do empirismo clássico. Uma definição mais clara pode ser encontrada em WK:

“a definição do método científico de Popper difere da versão baconiana de empirismo por sua ênfase na eliminação em vez da ênfase na verificação. No entanto eles têm em comum um determinado ponto: quer nós verifiquemos ou refutemos, de qualquer forma fazemo-lo com a ajuda de duas ferramentas e apenas duas: a lógica e a confrontação com os factos. As teorias são julgadas por dois juízes: consistência lógica e conformidade com os factos. A diferença entre os dois modelos situa-se apenas em saber se os factos condenam os pecadores ou canonizam os santos. Para o jovem Popper havia alguns pecadores apropriadamente certificados, mas nunca santos definitivamente canonizados”.

(WK, https://pt.wikipedia.org/wiki/Karl_Popper)

1. Rejeição ao indutivismo:

Popper rejeita veemente o indutivismo enquanto método científico. Segundo Popper o indutivismo é logicamente falho e suas generalizações não podem ser falseáveis. As teorias científicas elaboradas a partir da indução de fatos observados podem, no máximo, ser consideradas em termos de probabilidades e, portanto, falhas (as afirmações universais generalizadas pela indução sempre carregarão um grau de incerteza, podendo ser consideradas, no máximo, provavelmente verdadeiras).

Podemos considerar o exemplo abaixo como uma possível teoria baseada no indutivismo:

1ª. Muitos livros de filosofia são chatos.
2ª. Este livro é um livro de filosofia.
3ª. Este livro é chato.

Neste exemplo, com base em uma determinada amostragem de livros de filosofia que foram verificados (uma vez que é impossível verificar todos os livros existentes) conclui-se à proposição 1ª. Essa proposição é então utilizada como uma teoria para se determinar certo aspecto qualitativo dos livros de filosofia. A conclusão na proposição 3ª em relação ao livro observado na proposição 2ª é, na verdade, uma inferência. Assim, o método indutivo em si já contém a incerteza da afirmação: se dissemos que muitos livros são chatos é por que existem livros que não são chatos (ainda que em menor número).

2. Falseabilidade:

Para Popper, uma teoria científica parte de uma premissa universal à qual se chega por meio da intuição, revelação ou da criatividade. Essa premissa então deve ser testada enquanto hipótese, podendo ser, para isso, falseável. Uma hipótese somente será candidata à ser teoria, portanto, se puder ser falseável. A falseabilidade demarca, assim, a fronteira entre o que é e o que não é ciência.

Podemos considerar o exemplo abaixo como uma possível teoria formulada a partir de uma hipótese:

4ª. Todos os livros de filosofia são chatos.
5ª. Este livro é um livro de filosofia.
6ª. Este livro é chato.

No exemplo acima tem-se uma hipótese formulada que pode ser facilmente falseada, para isso, basta apenas a constatação de um único livro interessante de filosofia para a mesma ser refutada. Trata-se de um método lógico-dedutivo a partir de uma proposição geral em que é possível falsear a hipótese.

Popper defende também com isso que todas as teorias científicas são sempre temporariamente verdadeiras, até o momento em que forem falseadas. No exemplo acima, a proposição 4ª seria verdadeira até o momento em que, verificando-se os livros de filosofia, tivesse sido encontrado um que fosse chato.

3. Teorias não falseáveis:

Por outro lado, uma hipótese que não pode ser falseada não é considerada, segundo Popper, ciência.

Podemos considerar o exemplo abaixo como uma possível teoria não-falseável:

7ª Todos os unicórnios são brancos.

A proposição acima não poderia segundo Popper ser considerada dentro do âmbito científico, pois a falseabilidade é impossível (seria necessário admitir primeiro a existência de unicórnios para então procurar por unicórnios não-brancos).

Contudo, só reconhecerei um sistema como empírico ou científico se ele for passível de comprovação pela experiência. Essas considerações sugerem que deve ser tomado como critério de demarcação, não a verificabilidade, mas a falseabilidade de um sistema. Em outras palavras, não exigirei que um sistema científico seja suscetível de ser dado como válido, de uma vez por todas, em sentido positivo; exigirei, porém, que sua forma lógica seja tal que se torne possível validá-lo através de recurso a provas empíricas, em sentido negativo: deve ser possível refutar, pela experiência, um sistema científico empírico.

(POPPER, p. 42)

4. Regras metodológicas:

Popper propõe um novo conjunto de premissas de regras metodológicas que devem ser seguidas pela ciência. Estas regras devem assegurar a possibilidade de submeter a prova os enunciados científicos, o que equivale a dizer a possibilidade de aferir sua falseabilidade.

Segundo Popper:

(1) O jogo da Ciência é, em princípio, interminável. Quem decida, um dia, que os enunciados científicos não mais exigem prova, e podem ser vistos como definitivamente verificados, retira-se do jogo.

(2) Uma vez proposta e submetida a prova a hipótese e tendo ela comprovado suas qualidades, não se pode permitir seu afastamento sem uma “boa razão”. Uma “boa razão” será, por exemplo, sua substituição por outra hipótese, que resista melhor às provas, ou o falseamento de uma consequência da primeira hipótese.

(POPPER, p. 56)

5. Crítica à Popper:

Percebe-se nas teorias de Popper uma negação pragmática dos resultados científicos obtidos por meio do método indutivo (são desconsiderados os resultados práticos da aplicação de hipóteses formuladas indutivamente a partir da observação de fatos ou fenômenos e que apresentam uma grande probabilidade de serem verdadeiras). O método indutivo não necessitaria ser descartado, pois mesmo quando utilizado em termos de de probabilidades, nada impede que as hipóteses e teorias  formuladas pelo método indutivo sejam colocados à prova dedutiva bem, como, também falseadas. Também haveria necessidade de se verificar se o método indutivo não viria o fornecer o combustível para a formulação intuitiva de uma teoria universal ou, então, utilizado como uma alternativa ao mesmo. Entende-se assim, sob o ponto de vista pragmático, existem resultados conquistados pela ciência que partiram de análises indutivas e, havendo resultados práticos, ainda que conceitualmente “não-científico”, seria necessário buscar um ponto de vista que não o excluísse dentro de lógica de pesquisa e desenvolvimento científico. 

 


REFERÊNCIAS

POPPER, Karl R. A lógica da pesquisa científica. São Paulo: Editora Cultrix, 2001.

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